PSICOLOGIA DA TIRANIA E SUA PROFILAXIA

  • Psicologia da tirania

Certo dia maravilhei-me ao assistir um vídeo sobre a filosofia de Chesterton (1874 – 1936)[1]. O jovem intérprete desse colossal pensador inglês creditou-o a previsão da desestabilização do mundo moderno e da união de quatro forças contra as famílias[2], a saber:

  1. Gigantismo governamental.
  2. Gigantismo empresarial.
  3. Educação pública partidarizada.
  4. Mídia tendenciosa e corrompida.

Ao leitor menos atento pode parecer estranho um conluio entre estruturas de naturezas tão diversas. Estaríamos diante de exageros interpretativos? Como o Estado (concentrador de poder) e as gigantescas corporações (concentradoras de capital) usariam a estrutura educacional e midiática para fins despóticos? O que sabemos é que o ataque à livre concorrência e à descentralização política advém dos obcecados por controle. A questão é: quem ganha e quem perde com isso?

A fricção entre empreendedores produz território fértil para beneficiar os consumidores, tanto com preços competitivos como com produtos de crescente qualidade. Contrariamente, a população jamais será beneficiada com reservas de mercado e aberrações monopolistas. Chesterton compreendeu brilhantemente o jogo de interesses em detrimento da sociedade, da família e da livre concorrência.

Uma curiosidade inevitável:Quem deturparia a educação e a mídia neste contexto? Enfim, quem seriam os Leviatãs? A resposta não poderia ser melhor simbolizada pela expressão estadunidense: follow the money[3].A união entre concentradores de poder estatais e corporativos emerge das ideologias rubras, materialistas e centralizadoras, sempre em genuflexão ao deus-estado e ao deus-dinheiro. Os exclusivismos dinásticos necessitam de excessos regulamentares e burocráticos para restringir a concorrência, sendo a ferramenta destes interesses hedonistas as velhas raposas políticas de mentalidade estatizante.

Pois bem… Políticos precisam de votos. Assim, desnecessário muito raciocínio para concluir que os sistemas educacional e midiático sempre estarão no radar dos tiranos, desejosos pela lavagem cerebral massificada, transformando inocentes adolescentes em servis eleitores e fantoches dos mais abjetos interesses mascarados por falácias populistas e sedutores adornos politicamente corretos.

Antes de concluir qual seria a psicologia da tirania, deixarei algumas perguntas sem resposta: Quem financia as emissoras de televisão brasileiras? A quem interessa a lei Rouanet, os espetáculos degradantes “y otras cositas más”? Por que uma empresa monopolista – como a Petrobras – precisaria de propaganda? Pois é, queridos leitores… aqui vamos nós novamente:  follow the money!

Assim, na esteira de Chesterton e sob sua inspiração, desenvolvi a hipótese de que a tirania se origina de um vazio existencial tão profundo, tão espiritualmente constrangedor, que escraviza o próprio tirano em sua própria degradação moral, restando-lhe apenas a observação solitária de sua imagem refletida num lago narcísico qualquer. Parece-me haver uma abissal desconexão com sua essência mais profunda, causada pela infeliz adoração ao deus-Mamon e suas ilusões egóicas. Portanto, urge uma ligação com nossa “essência-superior” ou, se preferirem, uma gloriosa religação transcendente, em torno daquilo que realmente tem valor para o nosso “eu-profundo”: o bem, o belo e o verdadeiro.

 

  • A profilaxia da tirania

Colocada a hipótese da desconexão com nossa essência como a origem psíquica da tirania, adianto que defenderei sua profilaxia através de estágios de consciência, mormente em relação ao papel família neste contexto específico. Inicio minha tese explicando porque o agente despótico, antes de chegar no indivíduo, tenta destruir a família. Solicito licença para apresentar a imagem a seguir, a fim de ilustrar graficamente o funcionamento da família como um escudo entre um possível governo tirânico e o indivíduo.

Imagem 1: estrutura familiar entre o governo e o indivíduo

 

Convido a todos a pensar qual estrutura tem interesse na tributação da herança e da propriedade. Quais as ideologias com sanha arrecadatória?Sejamos mais práticos:Que políticos advogaram o aumento de impostos, tributação da herança, mais taxações ou criação/revitalização da CPMF?

Em nosso artigo anterior, desvendamos a Encíclica Rerum Novarume seu distributivismo espontâneo através da caridade. Essa espontaneidade é a vacina contra rompantes autoritários. Opostamente, os socialistas/comunistas, ao abusarem da jurisdição privada e violarem a justiça meritória pela força, criam uma estrutura governamental ainda mais opressora, formando uma casta de privilégios oriundos da junção do poder econômico com o político. Vejamos a evolução da imagem anterior, em que família suportaria ainda mais uma estrutura sobre seus ombros.

Imagem 2: estrutura familiar suportando duas estruturas opressoras

 

Em suma, as hediondas taxações, as coerções e as expropriações da propriedade privada e do mérito alheio violam os mais evidentes princípios de justiça e atenta contra os naturais anseios de preservação familiar. A ética por detrás destas conclusões vibra na sintonia dos justos interesses individuais em torno da liberdade econômica (vertente liberal clássica) e essenciais interesses sociais em torno da proteção da família (vertente conservadora). Teríamos finalmente um aspecto convergente entre liberalismo e conservadorismo? Haveria esperança para um diálogo harmônico entre a ética individualista de Ayn Rand e a notávelsolidariedade sistêmica e voluntária de Chesterton?

Não possuo respostas para tão intrigantes perguntas, mas acredito que a racionalidade nua e crua poderia fazer as pazes com a espiritualidade, a afetuosidade, enfim, a amorosidade. Reconheço as glórias da razão, mas também pondero sobre seus limites. Neste diapasão, as maravilhosas virtudes da racionalidade de nada valerão sem raízes bem nutridas por solo repleto de edificantes valores morais. Enfim, o liberalismo alimenta-se do conservadorismo. Em outras palavras, liberdade depende de ordem.

Os efêmeros poderes da suposta divindade Mamon, da vermelhidão niilista e do materialismo positivista ruíram diante do impiedoso chicote da angústia e do vazio existencial. Assim, urge o abandono das ilusões efêmeras, a fim de despertarmos da hipnose narcísica e da patológica obsessão mundana pelo controle.

Por fim, inspirado nas luminosas lições do médico austríaco Viktor Frankl (que suportou os horrores da tirania num campo de concentração nacional socialista), imagino um fraternal abraço entre a razão e o amor, simbolizando a poderosa união da justiça com a compaixão. E sob a égide das reflexões causadas por esse artigo, convido a todos para presentearem suas respectivas existências com a alegria proporcionada pela suave brisa da serenidade e da opção personalíssima e facultativa pela solidariedade, que nos inunda carinhosamente com a doce fragrância de uma vida digna de ser vivida.

[1]https://youtu.be/-GK118ju69A

[2]https://youtu.be/dnjYh76P1l8

[3]Follow the money (em português: siga o dinheiro): bordão popularizado pelo filme All President’s Men (1976).

 

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Psicologia da tirania e sua profilaxia

Psicologia da tirania e sua profilaxia.

Publicado por Tom Martins em Quarta-feira, 24 de julho de 2019