• Para quem escrevo?

Após recente escrita da obra Espiritualidade Consiliente: uma opção existencial, compreendi que havia encontrado minha trilha existencial (alguns preferirão chamar de caminho espiritual). Apesar do imenso caminho a percorrer, porto uma tranquilidade de quem achou a direção dos próximos passos. Finalmente, minha busca pela verdade transcendia e incluía todos os “-ismos” edificantes e todas as boas escolas de sabedoria à nossa disposição.

Todavia, vivo numa época de ressurgimento de um espetáculo de barbáries que julgávamos extintas. Podemos citar os horrores do nacional socialismo hitleriano do século XX ao ressurgimento do mesmo vil e inenarrável antissemitismo[1]em pleno século XXI. Diante de tantos relinchos argumentativos de supostos intelectuais e militantes mambembes, emerge em minha mente a questão: escrever para quem?

E as questões não param por aí. Como desembocamos nesse insólito caldeirão de ignorância política e espiritual que chamamos de Pós-modernidade? Os raros cidadãos lúcidos sobre a nefasta engenharia social[2] a que está submetida a Modernidade estão cada vez mais boquiabertos. Assistimos ao festival de asneiras ideológicas e o desrespeito ao próximo, em geral permeados por bandeiras vermelhas, gritos de guerra, jargões rasos. A novidade moderna é que tais relinchos de frases feitas também foram adotados por bandeiras verdes e amarelas.

Sim, os rebanhos opostos brigam, mas se alimentam da mesma grama da mediocridade argumentativa e nanismo filosófico. Eis o deserto intelectual a que me refiro no título. Não se trata da equivalência moral de toda a “gadolândia”, pois o gado marcado em ferro em brasa vermelho causa estragos e débitos espirituais infinitamente maiores[3][4][5], mas sim reconhecer que a simplificação rasteira e fanática toca ambos os rebanhos.

José Ortega y Gasset chamou o fenômeno descrito de “homem-massa”, uma espécie de ente que se deixa dominar por um pensamento coletivo e abre mão de sua individualidade. Os berros estridentes do “homem-massa” gassetiano ecoam fortemente nos escombros morais de nosso tempo (ano base: 2023).

Enquanto isso, nossos governantes chafurdam em escândalos de corrupção acobertados por uma astuta retórica populista e os “ungidos” de Thomas Sowell[6] acreditam que resolverão o problema do mundo com suas engenharias sociais, em geral ligadas a pautas nefastas, como a leniência cada vez maior com os criminosos, mutilação de crianças sob a narrativa de liberdade de gênero[7], apologia às drogas e o lamentável assassinato de nascituros nos abençoados ventres maternos. Afinal, de onde veio esse caminhão desgovernado que nos atropelou? Enfim, o que fazer diante dessa calamidade espiritual?

Decidi atuar em várias frentes, entre elas, na escrita. Minha motivação talvez seja rotulada com a breguice dos clichês, ou pior, pela démodé esperança de resgatar a busca socrática pela verdade num mundo reverente e subserviente à inglória vitória sofista (em linguagem moderna: lacração). Embora clichês como “buscar a verdade” pareçam antiquados diante do modismo relativista, nutro a expectativa de que minhas reflexões contribuam com algo para meus leitores, ou seja, que meus esforços sejam coroados com algum impacto reflexivo em direção a um mundo que permita debates filosóficos honestos, principalmente no mundo acadêmico. Sim, o ambiente acadêmico está absolutamente carente de honestidade intelectual.

Vivemos na era dos ressentimentos[8], manifestados por meio de “cancelamentos”, “lacrações” e “mitadas” de rebanhos rivais, mas que se alimentam da mesma grama da ignorância. A superficialidade do conhecimento e a vulgaridade das atitudes nunca foram tão explícitas e visíveis a olho nu. Não acredito que a pessoas tenham piorado em sua essência. A pós-modernidade apenas retirou o verniz do adestramento cultural que funcionava como contenção do “eu-primitivo”, proporcionando a emersão do “homem-velho” e de toda podridão que ainda habita em suas respectivas carcaças corpóreas.

As redes sociais deram megafones ou “empoderaram” (para usar um termo da moda) seres que não tinham nada de construtivo para dizer. Diante da incapacidade construtiva, o que restaria aos “empoderados”? Eis a resposta: a desconstrução. Estamos diante de uma espécie de uma “ideologia-fashion”, onde a crítica vale pela própria crítica e não pela lógica em seu conteúdo. “Viva o criticismo”, pensam alguns abobalhados que sequer sabem conceituar propriamente os termos que pronunciam.

Diante disso, caminhamos para os ataques agressivos em jargões curtos, levianamente gritados ou balbuciados em forma gritos de guerra. No campo político, observamos a tirania oriunda de pessoas mal-intencionadas e um outro tipo de despotismo que parte dos “idealistas magnânimos” a que se refere Hayek[9], que apesar de sua intenção aparentemente positiva, dão causa às piores barbáries totalitárias com suas teorias do ar-condicionado. De minha parte, endosso Hayek no conteúdo da mensagem, obviamente entendendo a ironia da expressão “ideológico-magnânimo”, mais associado à arrogância do engenheiro social do que propriamente a alguma virtude de magnanimidade.

O filósofo contemporâneo Luiz Felipe Pondé cunhou as expressões “inteligentinhos” e “idiotas do bem”[10], referindo-se tanto ao boçal que despreza conceitos que exijam um repertório intelectual mais sofisticado para sua compreensão, bem como aqueles que se acham do bem porque adotam pautas de algum modismo ideológico anti-alguma-coisa[11].

Os “idiotas do bem” de Pondé gritam jargões rasos e postam símbolos “antifa” sem sequer perceberem que defendem o Estado como solução para tudo, ignorando a frase de Mussolini, pai do fascismo: “tudo no Estado, nada fora do Estado, nada além do Estado”. Os “idiotas do bem” acusam qualquer um que não comungue de sua seita ideológica de genocida[12], mas apoiam os bárbaros terroristas do Hamas. Em suma, esses incautos lançam-se no colo das ideologias que pensam combater, lembrando a frase de que “os fascistas do futuro chamar-se-ão de antifascistas”. Tal pensamento foi falsamente atribuído a Churchill, mas independentemente de sua autoria, seu conteúdo mostrou-se absolutamente verdadeiro.

Em geral, acreditam que um mundo melhor dependeria de pautas de gênero ou modismos abobalhados como a aplicação de pronomes neutros na linguagem. Tendem ao extremismo político e limitam sua parca noção de realidade às simplificações reducionistas do tipo “nós versus eles”. Pondé ironiza-os e trata-os pela adjetivação “idiotes”[13].

Definitivamente, não serei compreendido entre os “ungidos” de Sowell, o “homem-massa” de Gasset, as “tribosideológicas” de Llosa, muito menos pelos os “ideológicos-magnânimos” de Hayek ou pelos “idiotes” de Pondé. Tais autores foram cirúrgicos na identificação dos putrefatos escombros em que se proliferam os germes da tirania. Para os farrapos espirituais que sucumbiram ao canto da sereia da centralização de poder, à “religião-laica” marxista ou ao despotismos travestidos com lantejoulas democráticas, meus escritos serão ininteligíveis.

Portanto, escrevo para os poucos ainda libertos dos grilhões ideológicos, das farsas e bisonhas narrativas moderninhas. Também não serei compreendido pelos fanáticos de algum “-ismo” da moda, seja ele religioso, ateísta, político ou qualquer outro. Embora eu abrace a espiritualidade como realidade paradigmática, não sou inocente a ponto de excluir a picaretagem qualquer área em que habite o ser humano, incluindo em minhas críticas os mistificadores profissionais, os adeptos da seita marxista e todos os pseudos espiritualistas (chamem de falsos profetas, se preferirem).

Escrevo para os portadores de coragem suficiente para enfrentarem a nua, dura e crua realidade dos fatos e eventos cuspidos e escarrados na face dos “idiotes” de Pondé[14], ou seja, para os que sigam na contramão dos fanáticos, sejam os “ungidos” de Sowell ou os “magnânimos” de Hayek. Embora eu mantenha alguns pontos de discordância destes honrosos autores (em especial, no campo da espiritualidade), reconheço-os como escassos mananciais de luz em meio à escuridão do fanatismo reinante em nosso momento histórico.

Enfim, escrevo para você, caro leitor, que conseguiu chegar até aqui desprovido de pensamentos relinchantes e ciente que há muita verdade por detrás da acidez irônica dos adjetivos utilizados pensadores. Aos que não entenderam a ironia pedagógica e acidez didática dos pensadores citados, não se preocupem, a eternidade é longa e tudo virá a seu tempo.

[1] REVISTA OESTE. J.R. GUZZO. O veneno antissemita. Edição 187 – 20.10.2023, matéria de capa. Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-187/o-veneno-antissemita/

[2] REVISTA OESTE. ROBERTO MOTA. As políticas sociais progressistas. Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-186/as-politicas-sociais-progressistas/

[3] REVISTA OESTE. ANDERSON SCARDOELLI. Extrema esquerda queima bandeira de Israel, pede fim do país judeu e parabeniza terroristas do Hamas. Disponível em: https://revistaoeste.com/brasil/extrema-esquerda-queima-bandeira-de-israel-pede-fim-do-pais-judeu-e-parabeniza-terroristas-do-hamas/

[4] REVISTA OESTE, ROBERTO MOTTA. Por que a esquerda apoia o massacre terrorista? Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-187/por-que-a-esquerda-apoia-o-massacre-terrorista/

[5] REVISTA OESTE. J. R. GUZZO. Surtos de negacionismo. Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-188/surtos-de-negacionismo/

[6] SOWELL, Thomas; Os Ungidos: a fantasia das políticas sociais progressistas.

[7] REVISTA OESTE. Ex-garoto trans processa clínica que removeu seus seios. Disponível em: https://revistaoeste.com/mundo/ex-garoto-trans-processa-clinica/

[8] PONDÉ, Luiz Felipe. A era do ressentimento.

[9] HAYEK, Direito, Legislação e Liberdade: a democracia em um país verdadeiramente livre.

[10] PONDÉ, Luiz Felipe. O que é um idiota do bem? Disponível em: https://youtu.be/hoFzsAZPrUA?si=5PPkYzEnWxwsLbd3

[11] PONDÉ, Luiz Felipe. Quem se acha do bem é, na verdade, do mal. Disponível em: https://youtu.be/QrodY0NYwfI?si=CiN5FXpPgX3-zcGk

[12] LACOMBE, Luís Ernesto. Os genocidas. Disponível em: https://youtu.be/sHLgq2DSUCM?si=Evwi1IkB4aG4kgAZ

[13] PONDÉ, Luiz Felipe. Uma cultura de histéricos. Disponível em: https://oantagonista.com.br/brasil/luiz-felipe-ponde-uma-cultura-de-histericos/

[14] PONDÉ, Luiz Felipe. Quais são os preconceitos dos inteligentinhos? Disponível em: https://youtu.be/eRxTZwWl8ek?si=UyD2Qo0GTSKJyhtW