• Por que escrevo no deserto moral?

A Modernidade trouxe-nos fantásticos avanços tecnológicos, mas se afoga em qualquer dez centímetros de profundidade, pois a enfadonha superficialidade dos “inteligentinhos”[1] habitantes das universidades, a rasa intelectualmente de estilo workshop, o rasteiro fanatismo ideológico tristemente disseminado, os asseclas/sectários de panaceias  políticas salvacionistas, a mídia moralmente corrompida e os neo-fundamentalistas[2] também são frutos apodrecidos da mesma árvore que nos trouxe as maravilhas dos iPads e iPhones.

A conclusão parece-me óbvia: as evoluções moral e intelectual não acompanhou a tecnológica. Evoluímos das corrida de bigas romanas à Fórmula 1, das charretes às Ferraris, mas o nível moral dos condutores não reflete a evolução de seus instrumentos. Aliás, o que pensaria Sócrates sobre os relinchos supostamente filosóficos da Modernidade?

A partir da premissa da escassez ética, emerge a questão: Por que escrever sobre espiritualidade num contexto de irracionalidade filosófica (subversão dos conceitos e da lógica aristotélica)? Acrescente-se a insensatez intelectual nas universidades e na magistratura[3] (uso sofístico da erudição), além das barbáries humanitárias em andamento, entre elas as guerras e os “passapanismos”[4][5] midiáticos para grupos terroristas. De fato, o planeta que chamamos de Terra, em pleno ano de 2023, continua sendo um deserto moral.

Gosto de pensar que escrevo por amor, mas temo escrever por absoluta falta de interlocutor interessado em espiritualidade (chame de moralidade, se preferir o leitor) levada à sério. Depois do dantesco espetáculo de politização da pandemia do Corona vírus originária da China comunista[6], a humanidade passou a receber notícias de guerras, atentados terroristas, omissões comprometedoras[7], distorções de notícias pela mídia marrom[8][9] e falsos professores[10], além dos horrores de decapitação de crianças[11][12]. Momentos depois, fomos chocados com publicações de vídeos registrando apoiadores dos movimentos que patrocinaram e executaram tais atrocidades[13][14].

Quando pensei que havíamos chegado ao fundo do poço, recebi a notícia que alguns políticos[15][16], movimentos supostamente “populares”[17] e até mesmo partidos políticos de extrema esquerda, além de militantes com camisas vermelhas[18], relativizaram e, pasmem, endossaram os ataques sanguinolentos[19] e portadores de brutais perversidade[20]. Alguns chegaram a comemorar a atrocidade[21]. A apologia ao terrorismo passou de algo que deveria ser inconcebível para tornar-se título de artigos dos escassos jornalistas decentes ainda restantes e de raríssimas revistas que ainda mantém o compromisso com a realidade dos fatos[22]. Há quem use o termo “cumplicidade”[23].

E se tal conivência viesse das pessoas de nosso convívio social? Haveria cumplicidade ao votarmos em partidos ou ideologias que relativizem ou, atém mesmo, apoiem – oculta ou expressamente – o terror? Vivemos tempos difíceis e incoerentes. Não mais chamamos as coisas pelos seu devido nome[24]. Partidos e militantes relativistas não apenas relativizam o terror, mas também o justificam.

O colunista Guilherme Fiuza utilizou-se da expressão “relativizar a carnificina”[25] para referir-se ao proselitismo político em torno de um pseudos heróis construído através de narrativas fictícias, não mais baseado na démodé observação da realidade. Sim, o objetivo, o concreto e o mundo dos fatos estão fora de moda e cedem espaços para as narrativas que se adequem às utopias de estimação.

Entra em cena a construção de uma “realidade” imaginária ou subjetiva, das narrativas e dos seres (des)humanos que defendem um “humanismo seletivo”[26] e de uma hedionda, falsa e absolutamente desonesta “equivalência moral”[27]entre agressor e agredido, ou seja, entre a agressão e a legítima defesa protetiva de si mesmo e de familiares.

Num momento em que as notícias circulam pelo mundo na velocidade de um relâmpago, entristeço-me ao pensar que pessoas ao nosso redor sejam coniventes com tais barbáries e/ou não as repudiem com a devida veemência, seja com um incômodo silêncio, seja pelo flagrante titubeio em chamar terroristas de terroristas. Como apontou a colunista Ana Paula Henkel: “O “11 de setembro” dos israelenses marcará uma nova fronteira entre a civilização e o barbarismo”[28]. Henkel termina seu citado e bombástico artigo com a impactante da frase: “… é perturbador testemunhar que os mesmos que gritaram, durante quatro anos, ‘nazista!’ para Donald Trump e seus apoiadores há seis dias apoiam o novo extermínio de judeus e as novas justificativas nazistas para tanta barbárie contra Israel”. Aliás, caro leitor, tu sabias que nazismo é um acrônimo de nacional socialismo? Sim, socialismo. Aposto um pirulito contigo que seu professor de história não te ensinou isso.

Do outro lado da moeda, temos as boas pessoas, mas muitas delas fanatizadas por algum “-ismo” de sua predileção, seja uma vertente política patológica ou um equívoco interpretativo de bons paradigmas religiosos. Sou testemunha de várias vertentes filosóficas e religiosas que repudiam a idolatria a bezerros de ouro (sejam pessoas ou coisas) e veneram o amor universal e excelentes valores éticos. Todavia, seus integrantes, sem perceberem, tornam-se escravos de seus particulares sectarismos endógenos, apesar de “seguirem” uma vertente que prega exatamente o contrário, ou seja, o universalismo.

Por fim, ao perscrutar meus sentimentos mais profundos, sou obrigado a confessar que escrevo porque preciso dessa eficaz catarse silenciosa. Enfim, considerando nossa presença numa sociedade carente de qualificação intelectual, bruta e altamente fanática, acrescento à escrita o adjetivo terapêutico. A ignorância tornou-se método de dominação e sua disseminação é perpetrada por supostos jornalistas, professores, homens da ciência jurídica, políticos, sofistas, pseudos pensadores etc. Lamentavelmente, temos mais ignorância no planeta que partículas de hidrogênio. E para piorar as coisas, a ignorância travestiu-se de sabedoria, tornando-se ainda mais perigosa. Vivemos entre lobos tirânicos com “democráticas” peles de cordeiro. Para ser quase confessional, minha escrita também atinge o patamar do desabafo. Portanto, entre o amor, a necessidade espiritual, a solidão intelectual, o desabafo e tantos outros fatores que me levam à escrita, confesso a degustação – nem sempre prazerosa – de toda essa salada mista.

 

 

[1] LUIZ FELIPE PONDÉ. Quais são os preconceitos dos inteligentinhos? Disponível em: https://youtu.be/eRxTZwWl8ek?si=cFtLPKOJkHgbF8fe

[2] REVISTA OESTE; EDILSON SALQUEIRO. Fundador do Hamas clama por revolta muçulmana global. Disponível em: https://revistaoeste.com/mundo/fundador-hamas-revolta-muculmana-global/

[3] GAZETA DO POVO; J. R. GUZZO. Até Gilmar Mendes reconhece que Lula só se elegeu graças ao STF. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/gilmar-mendes-reconhece-lula-eleicao-stf/

[4] Passapanismo: neologismo coloquial cunhado para designar posturas justificadoras de ações criminosas injustificáveis ou inversão dolosa de conceitos a fim de ocultar malefícios. Exemplo: a figura do lobo em pele de cordeiro.

[5] REVISTA CRUSOÉ. AUGUSTO FRANCO. Teoria do passapanismo. Disponível em: https://crusoe.com.br/edicoes/271/teoria-do-passapanismo/

[6] A afirmação, embora fincada na rocha da realidade, soará como uma provocação, pois virou moda a expressão “débito histórico” para justificar pautas ideológicas, mas jamais utilizam tal expressão quando a origem do problema vem do comunismo. Eis a indignação seletiva dos fanáticos.

[7] GAZETA DO POVO. Putin e Xi se encontram em meio a críticas a Israel e ausência de condenação ao Hamas. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/putin-e-xi-se-encontram-em-meio-a-criticas-a-israel-e-ausencia-de-condenacao-ao-hamas/

[8] LUÍS ERNESTO LACOMBE. Um Terror de imprensa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lfNFAi3g8Yc

[9] BRASIL PARALELO. Como a mídia noticiou os ataques terroristas do Hamas. Disponível em: https://youtu.be/-8540SniO6w?si=11ztAyvz84E26aXL

[10] REVISTA OESTE. Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/na-puc-professor-diz-que-ataques-do-hamas-sao-resposta-e-alunos-reagem/

[11] REVISTA OESTE. Disponível em: https://revistaoeste.com/mundo/terroristas-mataram-bebes-na-frente-dos-pais-diz-militar-de-israel/

[12] REVISTA OESTE. Disponível em: https://revistaoeste.com/mundo/video-terroristas-do-hamas-matam-40-bebes-israelenses/

[13] DELTAN, DALLAGNOL, Manifestantes e partidos de esquerda gritam: “Viva Hamas”: Disponível em: https://www.instagram.com/reel/CyO9knOrPOq/

[14] GAZETA DO POVO; ALINE RECHMANN. MST omite ataque do Hamas. https://www.gazetadopovo.com.br/republica/mst-omite-ataque-do-hamas-e-tem-brigada-que-homenageia-fundador-de-grupo-terrorista/

[15] REVISTA OESTE. Boulos equipara governo de Israel a terroristas do Hamas. Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/boulos-equipara-governo-de-israel-a-terroristas-do-hamas/

[16] GAZETA DO POVO. Cinco vezes em que Lula “comprou” a narrativa do Hamas. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/cinco-vezes-em-que-lula-comprou-a-narrativa-do-hamas/

[17] GAZETA DO POVO; ALINE RECHMANN. MST omite ataque do Hamas e tem “brigada” que homenageia fundador de outro grupo terrorista. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/mst-omite-ataque-do-hamas-e-tem-brigada-que-homenageia-fundador-de-grupo-terrorista/

[18] REVISTA OESTE; SILVIO NAVARRO. Por que o governo Lula, os partidos de esquerda e a velha imprensa não conseguem repudiar o terror que devastou Israel? Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-186/a-esquerda-escolheu-o-lado-do-terror/

[19] JOVEM PAN NEWS, PCO declara apoio ao Hamas e afirma “Fim de Israel”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7ln-8EmF4b0

[20] DANIEL LOPES. Lágrimas em Israel. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/daniel-lopez/israel-como-explicar-inexplicavel-hamas-terrorismo/

[21] GAZETA DO POVO. DIÓGENES F. FEITOSA. Quem é o jornalista de esquerda que comemorou bombardeio do Hezbollah contra Israel. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/quem-e-o-jornalista-de-esquerda-que-comemorou-bombardeio-do-hezbollah-contra-israel/

[22] REVISTA OESTE; JOSÉ C. S. DA FONSECA. Apologia ao terrorismo. Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-186/apologia-ao-terrorismo/

[23] REVISTA OESTE. Lula é cumplice dos massacres em Israel. Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/lula-e-cumplice-dos-massacres-em-israel/

[24] LEONARDO COUTINHO. Por que é tão difícil chamar terrorismo de terrorismo? Disponível em: https://twitter.com/lcoutinho/status/1711212436454289531

[25] REVISTA OESTE; GUILHERME FIUSA. Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-186/receita-de-felicidade-apocaliptica/

[26] REVISTA OESTE. Estadão expõe o “humanismo seletivo da esquerda”. Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/estadao-expoe-o-humanismo-seletivo-da-esquerda/

[27] RODRIGO CONSTANTINO. Falsa equivalência moral. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/mst-omite-ataque-do-hamas-e-tem-brigada-que-homenageia-fundador-de-grupo-terrorista/

[28] REVISTA OESTE. Um desastre anunciado. Disponível em: https://revistaoeste.com/revista/edicao-186/um-desastre-anunciado/