ÉTICA: CLASSIFICAÇÕES E FALÁCIAS

Em ligeiro corte histórico, iniciarei a abordagem em classificação dual, a saber:

  1. Objetivação da Ética.
  2. Subjetivação da Ética.

Conjugaremos essa primeira perspectiva com uma classificação alternativa, considerando os aspectos históricos:

  1. Ética na Idade Grega.
  2. Ética na Idade Cristã.
  3. Ética na Idade Moderna.
  4. Ética na Idade Contemporânea.
  5. Ética atual e seus equívocos.

A Idade Grega pode ser considerada como nosso marco inicial deste estudo, ao apontar os aspectos éticos transcendentes e imanentes. Eram tempos de uma visão cosmológica, racional e metafísica da pessoa. Em palavras mais simples, a racionalidade substituíra o mito.

Devemos boa parte de nossas reflexões atuais aos gigantes Platão e Aristóteles, obviamente influenciados pelo pensamento e pelo mortal julgamento “democrático” de Sócrates. As leis da natureza passaram a tomar conta das mentes pensantes da época.

Em seguida, estudamos a Idade Cristã e a verticalização da ética. O foco filosófico migrou da substância essencial para o sentimento essencial: o amor. Em termos didáticos: o interesse abandonou as leis da natureza e adentrou nas leis de Deus. Estávamos diante da visão teológica cristã e seus fantásticos e magnos representantes: Agostinho e Aquino.

Analogicamente a um salto quântico, esse artigo deixa a Idade Cristã e passa a refletir sobre a Idade Moderna. Agora estamos diante da subjetivação da Ética. Mantêm-se o interesse pela racionalidade, mas de forma narcísica, ou melhor, apontando como finalidade da ética o próprio homem. Eis aqui o antropocentrismo. A figura filosófica marcante, neste momento, é Kant.

Nosso célere caminhar histórico adentra à Idade Contemporânea, que tentou resgatar a objetivação da Ética, mas pela infeliz e equivocada via materialista. Daí os equívocos em torno do conceito de Justiça Social, que embora seja interessante, está rodeado de interesses espúrios e falácias políticas das mais abjetas, fruto de um marxismo de sarjeta e pensadores como John Rawls e Habermas. Eis aqui o território da ética discursiva (de estilo sofista), sob a retórica da liberdade de “falar a verdade”, como se a verdade não pudesse estar nas fases anteriores ou em jurisdições ainda não atingidas. É a soberba dos modernos “inteligentinhos”.

A modernidade insiste no utópico conceito de “autonomia consensual” e suas falácias em torno de uma suposta validação de normas por um “Conselho Universal”. Sob minha perspectiva, esta visão passa por uma espécie esquizofrenia filosófica, ou seja, em completa dissonância com a realidade fática, nua e crua. Vale dizer que, na prática, não conseguimos leis consensuais sequem em habitantes de um pequeno vilarejo, ou pior, numa simples reunião de condomínio. Imaginem aplicar tais conceitos em termos globais. Face ao óbvio, dispensam-se maiores considerações.

Por fim, vejo que a disciplina Ética, nas Universidades de Filosofia, fomenta o nascimento do que professores doutrinados e doutrinadores denominam de Bioética. O modismo atual aborda termos como “Bioética Libertária”[1], “Bioética fenomenológica-hermenêutica”[2], “Bioética antropológica-personalista”[3] e o meu preferido em termos de bizarrice, “Bioética confessional”[4]. Caros leitores, imploro que não me peçam para explicar tais conceitos. Trata-se de uma salada mista bastante confusa, baseada em premissas duvidosas e muito longe de serem autoexplicativas.

A intenção deste artigo é a mera noção histórica sobre o tema. Não posso afirmar que tenhamos evoluído em termos éticos, enquanto espécie humana. No máximo, posso afirmar que mudamos as perspectivas. Espero ter contribuído para que os leitores possam avaliar esse caminhar dos valores éticos, tanto as falácias, como os acertos, enfim. Um bom exercício está na reflexão sobre os pontos luminosos e obscuros de cada perspectiva. Destas conexões, surgiu a seguinte classificação:

 

                        OBJETIVAÇÃO DA ÉTICA

  1. Idade Grega: marco inicial
    1. Ética transcendente e imanente
    2. Visão cosmológica, racional e metafísica da pessoa.
  • Representantes: Platão e Aristóteles
  1. Leis da natureza
  1. Idade Cristã: verticalização da Ética
    1. Ética do amor
    2. Conflitos internos (homem imperfeito)
  • Representantes: Agostinho e Aquino
  1. Leis de Deus

SUBJETIVAÇÃO DA ÉTICA

  1. Idade Moderna
    1. Ética subjetiva
    2. Homem como finalidade última da ética
  • Representante: Kant
  1. Capacidade plena da razão
  1. Idade Contemporânea
    1. Objetivação materialista e mundana da ética
    2. Conflitos externos (homem como vítima)
  • Representantes: Marx, Rawls e Habermas
  1. Justiça como equidade, autonomia consensual e validação de normas por “Conselhos Universais”.
  1. Nascimento da Bioética
    1. Novos paradigmas da Bioética
    2. Consciência da sustentabilidade
  • Equívocos de abordagens
  1. Falácias reducionistas
  2. Resgate das falácias rousseaunianas regressistas

 

Obviamente, as pessoas de bem prestigiam a sustentabilidade e a salubridade planetária. Pessoalmente, declaro-me um amante da natureza, como berço da vida, mas não podemos negar que não alimentaremos 7 bilhões de seres humanos desprovidos das notáveis ferramentas tecnológicas.

Também valido o importante território da subjetividade, como vocações personalíssimas, os méritos individuais, os particulares gostos estéticos etc. Todavia, a exclusão da objetividade do tabuleiro da vida é reducionismo barato ou, até mesmo, loucura. Afinal, o abacateiro que plantei em meu quintal não frutificará Ferraris vermelhas, mas sim abacates. Eliminar seres humanos em campos de concentração do Nacional Socialismo jamais será aceitável eticamente, por mais que nossos irmãos moderninhos advoguem o relativismo moral.

Convido a todos a perceberem as jurisdições e os limites da subjetividade e da objetividade. Muitos destes limites são mais objetivos que nossas “cabeças-duras” e nossas ações narcísicas e pouco amorosas. Em suma, estamos por demais “umbigocêntricos”, com o perdão pela cunhagem de mais uma expressão chistosa. A modernidade carece dos bons remédios trazidos pela ética grega e pela nossa tão esquecida ética cristã, em torno da busca pela verdade, do amor e do altruísmo.

Nosso desafio está na integração entre tecnologia e sustentabilidade, da razão e do amor, do discurso altruísta com sua prática pessoal (jamais terceirizada para o vizinho ou para o Estado). Em suma, enquanto os supostos intelectuais desenvolvem suas teorias de gabinete naturalistas para salvar ovos de tartaruga, estes mesmos “pensadores” posicionam-se a favor do fetocídio, que chamamos de “aborto” por mero eufemismo. Eu prefiro salvar a ambos, ou seja, enaltecer a vida e ficar com a boa e velha ética cristã[5], que também suporta o crivo da racionalidade aristotélica.

 

 

 

 

 

 

[1] Retórica de uma “Bioética feminista”, supostamente “não-sexista” e coisa do gênero (https://www.jstor.org/stable/43903798?seq=1#page_scan_tab_contents).

[2] Baseada em Heidegger, que foi afiliado ao Nacional Socialismo (nazismo), ato do qual jamais pediu desculpas pública nem se lamentou (https://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Heidegger).

[3] Focada na perspectiva anglo-americana e antropológica.

[4] Expressão em oposição à Bioética Secular ou distante de qualquer orientação religiosa, baseada na autonomia do sujeito e na medicina como pleno recurso em benefício da vida humana.

[5] Lembro a todos que não pertenço a nenhuma vertente ou paradigma religioso. Declaro-me um pesquisador independente e um mero buscador da verdade.

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