A (ANTI) ÉTICA POPULISTA

 

  1. Introdução

Populismo seria sinônimo de mentira massificada? Insistirei numa resposta afirmativa. Considero um povo genuflexo ao populismo o maior estímulo aos discursos populistas e seus parlapatões dribladores da verdade. Obviamente, urge não apenas que os políticos sejam éticos e abandonem o populismo, mas que nós, povo do bem, entendamos que devemos depender menos do Estado e mais de nós mesmos. Em suma: a primeira lição ética e profilática ao populismo está no apreço à autossuficiência, não somente para nos alforriarmos das amarras estatais, como também para não onerar o próximo com nossas carências, indolências e imaturidades.

Após concretizado o desafio da autonomia material, emocional, intelectual e espiritual, estaremos diante da segunda lição do contexto ético, ou seja, o auxílio ao próximo. Nesta seara, devemos ter cuidado redobrado com as armadilhas do narcisismo egocêntrico e lembrar que o verdadeiro altruísmo emerge naturalmente da espontaneidade, ou seja, da voluntariedade. Qualquer imposição humana neste sentido deveria ser classificada como tirania, absolutamente dissonante dos conceitos de livre arbítrio, livre mercado e respeito ao mérito alheio. Lembremo-nos que estadismo imposto ao seu povo requer uma despótica carga tributária, além de suas bizarras e também tirânicas obrigações burocráticas escravizadoras.

  1. Desenvolvimento psicológico

Enquanto não perdermos a crença infantil no Estadismo (o Estado como responsável por nosso bem-estar social), seremos presas fáceis do populismo e do despotismo. Neste diapasão e com certa jocosidade, vale lembrarmos a questão popular: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? O fanatizável ou o fanatizador? O populista ou o genuflexo ao almoço grátis? Aqui vale lembrar a advertência de Étienne de La Boétie, em sua obra Discurso da Servidão Voluntária, onde o saudoso escritor identificou e previu a bizarra situação da servidão facultativa e pleiteada pelo próprio tiranizado, como sugere o título da obra. Eis uma relação cíclica e parasitária, que se retroalimenta patologicamente, muitas delas materializadas em pleitos por mais “benesses” estatais.

A verdadeira demanda deveria ser por mais liberdade e menor carga tributária. Eis o slogan “mais Mises, menos Marx”, que denota incrível maturidade de alguns ativistas brasileiros. Lamento que nossos queridos vizinhos e irmãos argentinos e venezuelanos ainda não estejam neste nível de “adultidade” política. Minha consciência diz-me que os chamados “direitos gratuitos”, presentes nos hábeis lábios dos populistas, são justamente as correntes que nos escravizam. Que o digam os sofridos pagadores de impostos. Se meu patamar de lucidez política e perspectiva ética agrada meus leitores, só Deus o sabe.

Apreciem ou não os meus prezados leitores, empurrar a responsabilidade por nossa precariedade existencial para agentes externos é uma das maiores imaturidades políticas e espirituais da nossa espécie. Culpar algum coletivo por nossas mazelas personalíssimas e, finalmente, impor ao nosso vizinho (na figura do Estado) o ônus do nosso sustento, além de infantil e questionável eticamente, tornará ainda mais difícil a conquista do nosso protagonismo existencial. Esse comportamento imaturo da massa impensante, fanatizada e sedenta por mais escravidão não é apenas triste, mas também digno de nossa admoestação carinhosa em prol da liberdade e do despertamento de nossos irmãos sonambúlicos e comatosos.

A pueril ilusão e crença popular no Estado de “bem-estar social” ou em algum outro agente externo supostamente responsável por nossa felicidade, lamentavelmente, oferta terreno fértil aos populistas. Não se enganem, caros leitores, o populista de hoje será o tirano de amanhã.

Além disso, o débil comodismo evolutivo e a inveja geram as ilusões, as utopias e o fanatismo político. Disso para as vilanias atitudinais… vocês sabe… falta pouco. Toda essa lavagem cerebral estatizante, Milton Friedman bem simbolizou com a frase “não existe almoço grátis”.

Nas mentes infantis, o Estado passou a ocupar o lugar de Deus, para a festa dos populistas de plantão, que não demoram para preencherem o arquétipo de novo messias[1][2]. Em seguida, surgem os epítetos: “o libertador”[3][4][5], o “salvador”[6], o “caçador de marajás”[7], o “pai dos pobres” [8][9] e até mesmo comparações com Jesus Cristo[10][11][12][13]. Sai de cena a frase religiosa “Deus proverá” e entra no palco político a seita laica e sua crença no estadismo: “o Estado proverá”.

Os efeitos dessa falsa religião são absolutamente nefastos. O pior desse paradoxal fanatismo laico está na pseudo crença da infinidade de recursos estatais. Passou da hora da população adentrar na fase adulta e enfrentar a realidade: os recursos são limitados e o Estado jamais substituirá a necessidade do nosso esforço personalíssimo e da nossa verdadeira transcendência. Em outras palavras, a solidariedade humana e os valores altruístas devem partir espontaneamente do nosso interior, jamais imposto despoticamente para espoliar o direito natural, o direito patrimonial e o mérito moral do semelhante.

No sistema atual, os trabalhadores honestos e responsáveis passam a ter o encargo de sustentar cada vez mais parasitas. O sistema previdenciário é piramidal e hipoteca nossos filhos e netos. Na outra ponta, a impunidade hodierna é comemorada por magistrados e políticos corruptos. Uma vergonha. O desânimo ou revolta dos bons passa a ser uma questão de tempo e a implosão social é assombrada pelo adjetivo “inevitável”. O resto dessa histórica está contida na obra de ficção da novelista russa, naturalizada norte americana, Ayn Rand, A Revolta de Atlas, onde os empreendedores cansaram de serem injustamente achincalhados pela burocracia e aderiram à indiferença. A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

Foquemos na reflexão sobre uma dupla responsabilidade, a primeira envolve o populista, a segunda recai sobre nossos próprios ombros. Nas palavras do filósofo contemporâneo Luiz Felipe Pondé: “na mente dos ‘inteligentinhos’, a política tomou o lugar da graça. Os problemas do deslocamento dos temas filosóficos ou transcendentes para o território político parece-me um problema óbvio, a começar pelo descolamento político da realidade, terminando pelo estímulo à mentira e às promessas falsa (em outras palavras: populismo).

Feita a crítica aos lavradores do fértil território para o surgimento de um político populista, adentrarei à responsabilidade personalíssima do político que optou pela dissimulação impregnada no populismo. Como sempre afirmei, o meio nos influencia, mas não é determinista. Vale dizer, o político não será populista apenas em razão da mediocridade da massa, mas por sua ganância e sede de poder. Em outras palavras, o político populista opta livremente pelo populismo, pela mentira e pela dissimulação. Não há escusa tanto para o populista, como para seus asseclas. Neste momento, reitero o jargão popular: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Os populistas, geralmente, escondem seus preconceitos disseminando ódio e acusando coletividades supostamente culpadas (agentes externos estereotipados).  Esses estereótipos foram usados pelo Nacional Socialismo contra o povo judeu. Hodiernamente, o viés preconceituoso aponta para os militares, a elite “isso ou aquilo”, os empresários “opressores” ou qualquer outro coletivo da vez.

A estratégia maquiavélica está em terceirizar a culpa e a responsabilidade para algum agente externo. Recuso-me a fazer parte dessa farsa ideológica e, exatamente por isso, escrevo tais linhas com serena assertividade, a fim de concluir que somos responsáveis por nós mesmos, o que não nos impede de sermos solidários, amar o próximo e suportarmos corajosamente o ônus e o bônus de nossas decisões.

  1. Conclusão

Chamo a atenção para a responsabilidade dos próprios leitores e, principalmente, dos educadores que não ofertam, seja por desonestidade ou ignorância, as quatro principais perspectivas políticas aos seus alunos, a saber: 1. Libertarianismo (ilegitimidade do Estado). 2. Liberalismo clássico (Estado minimalista). 3. Conservadorismo (foco na moral e nos bons costumes). 4. Estadismo (Estado tributarista e responsável pelo bem-estar social). Sim, além dos tiranos, todos os optantes pela servidão voluntária são responsáveis pela ignorância massificada e por sua própria desventura.

Neste diapasão, não mitigo nem recuo em um único milímetro sequer, ao sustentar a responsabilidade personalíssima tanto do tirano, como do tiranizado voluntário. Não há acordo com o despotismo populista, com a centralização tirânica de poder ou com o vil aproveitamento da crendice e da ignorância alheia. Poderá haver compaixão pelo agente errante, mas jamais a aceitação da tirania, ainda que em doses homeopáticas. Todo agente político deveria ser obrigado a registrar seus valores e plano de gestão, e sofrer impedimento e afastamento imediato do cargo, além de cassação permanente do título de eleitor, caso não cumprisse as promessas de campanha. Simples assim.

 

 

[1] https://exame.abril.com.br/mundo/na-venezuela-chavistas-mudam-pai-nosso-para-chavez-nosso/

[2] https://www.youtube.com/watch?v=ZfpPOheQhJE

[3] https://www.martinsfontespaulista.com.br/libertador-o-a-vida-de-simon-bolivar-156270.aspx/p

[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Simón_Bol%C3%ADvar

[5] https://pt.wikipedia.org/wiki/Libertador_(filme)

[6] https://www.youtube.com/watch?v=QZHYbjnkDZc

[7] http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/primeiras-paginas/o-caccedilador-de-marajaacutes-8952245

[8] https://pt.wikipedia.org/wiki/Pai_dos_Pobres

[9] https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/lula-candidato-se-apresenta-como-pai-dos-pobres-a329116v0nyj1f9cw7j7l39e6/

[10] Comparação com Jesus Cristo: https://www.youtube.com/watch?v=eLJ6HlzzajM

[11] https://www.youtube.com/watch?v=vElJ28K2pSE

[12] https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/09/02/interna_internacional,564938/hugo-chavez-ganha-versao-da-oracao-pai-nosso-na-venezuela.shtml

[13] https://pt.aleteia.org/2017/03/13/o-dia-em-que-um-partido-venezuelano-trocou-o-pai-nosso-pelo-chavez-nosso-que-estas-no-ceu/

………………………………………..

Artigos como esse e muita informação de qualidade na REVISTA TERÇA LIVRE

https://revistatercalivre.com.br/app/

…………………………………………