NÃO É BAJULAÇÃO, APENAS POSICIONAMENTO

O Instituto Liberal e outros analistas políticos comparam a militância política bolsonarista com a petista. Dizem que ambas são fanatizadas. Eu discordo da acusação em relação à primeira e concordo em relação à segunda, desde que mantenhamos o devido cuidado com as generalizações e ressalvemos as exceções de lado-a-lado.

Não se trata de bajulação, muito menos de adoração ou condenação messiânica. Ressalvo que meus estudos políticos partem do liberalismo clássico europeu. Consequentemente, compreendo o valor da liberdade e da importância capital do Liberalismo no campo econômico. A escolha do ministro Paulo Guedes sinaliza que o Instituto Liberal e eu não somos os únicos a compreender essa realidade.

Transcendendo e incluindo a questão econômica, percebi que uma sociedade bem constituída está estruturada não somente na liberdade, mas também nos bons costumes, na moral e nos valores espirituais ou humanitários. Sim, espiritualidade, consciencialidade, transcendência, cristandade ou qualquer outro significante que você, meu querido leitor, prefira designar sua relação com o transcendente. Aliás, sem ordem, moralidade, segurança jurídica e uma boa dose de valores humanitários, o livre mercado resta prejudicado.

As análises que apontam similaridades entre bolsonaristas e lulistas são simplistas e pouco profundas, pois para cada suposta similaridade, podemos apontar miríades de dissonâncias, com o perdão pela hipérbole linguística. Podemos dizer que água e óleo são líquidos, portanto, parecidos. Contudo, usar tal estrutura argumentativa no meio político não me parece o melhor caminho.

Os chamados “isentões”, estes sim, mantém uma relação de fanatismo pela postura isenta. Afinal, até quando a postura isenta seria virtuosa? Considero a isenção plenamente desejável para uma boa análise dos fatos ou para um honesto diagnóstico de uma situação qualquer. Todavia, após levantarmos o diagnóstico (através e uma pesquisa profunda ou atenta observação) formaremos uma opinião que implicará naturalmente numa escolha. Eis aqui o momento que a isenção deixa de ser virtude e passa a ser covardia. Em suma, abandonar uma posição assertiva sobre as possibilidades disponíveis (e não utópicas) configura-se numa tibiez indesejável.

Por exemplo, vamos analisar os fatos hodiernos na fronteira entre Brasil e Venezuela. Até aqui, a isenção é bem-vinda. Após a pesquisa, observamos a queima de mantimentos, recusa da ajuda humanitária e, ao mesmo tempo, uma população morrendo de fome. Você ficou isento ou formou um juízo de valor? Lembra dos valores espirituais ou humanitários que mencionei acima? Pois é…

No dia anterior ao que escrevo esse texto, muitos brasileiros tiveram a oportunidade de aproveitar uma linda tarde ensolarada com suas respectivas famílias. Enquanto isso, Bolonaro e Moro estavam trabalhando no combate às maiores e mais perigosas facções criminosas do país. Nosso ministro Ernesto Araújo esteve na fronteira Brasil-Venezuela tentando fazer alguma coisa. Confundir reconhecimento com fanatismo seria sintoma de algum mecanismo de defesa do ego? Alguma invejinha reprimida? Deixarei a pergunta no ar.

Aliás, por falar em nosso país vizinho, bolsonaristas e lulistas não me parecem tão similares assim nas opiniões sobre o ditador venezuelano amigão de Lula. Do labo bolsonarista, os defensores da ajuda humanitária. Do outro, os fanáticos bajuladores de ditadores sanguinários e de suas ideológicas avermelhadas. Enfim, não se trata de similaridades, mas sim de diametral antípoda nos gostos políticos.

Adentrarei aos aspectos abstratos. Temos dois lados em apreciação de algo. Seus gostos são diametralmente opostos. Diante disso, alguns analistas políticos afirmam que as posturas são idênticas, pois ambos gostam de alguma coisa. Permitam-me usar uma expressão popular que Roberto Campos também gostava: ora bolas, caçarolas! O destaque não está na similaridade do ato de gostar, mas sim na diferença entre os gostos. Os analistas políticos parecem afoitos e ávidos por mostrarem algo extraordinário e se esquecem das obviedades. Sim, caros leitores, para lembrar Chesterton, afirmarei que chegou o dia de provar que a grama é verde.

Nosso presidente e ministros têm famílias e são seres humanos com seus medos, seus problemas, suas falhas, enfim, suas “humanidades”. Reitero: não se trata de adoração, mas sim de lucidez sobre a realidade. Vale dizer, apesar de suas falhas humanas, eles estão fazendo um bom trabalho, absolutamente incomparável com os desmandos, os abusos e os escândalos de corrupção da era petista. Neste momento, eu poderia repetir a frase “Lula está preso, babaca”, expressão popularizada pelas redes sociais não apenas como um chiste, mas também como um chacoalhar do tipo: acorde para a realidade!

Descendo às minúcias da matéria do Instituto Liberal, devemos apontar que o texto foi iniciado com o caso Flávio Bolsonaro, mas sem mencionar o imbróglio em torno dos filhos do ex-presidente Lula. Não me parece condizente com o razoável, nem proporcional. Por falar em proporcionalidade, comparar os comprovados escândalos envolvendo bilhões (com “b” de bola) e os também comprovadíssimos ataques à democracia (Mensalão do Lula) com uma investigação em curso do filho do Bolsonaro não me parece justo e sequer intelectualmente honesto. Ninguém está defendendo Flávio Bolsonaro, apenas argumentamos que, se querem comparar, que comparem descentemente.

A matéria também aponta em tom crítico o fato de Flávio Bolsonaro apontar a mídia marrom como perseguidora da família Bolsonaro. Sob minha perspectiva, trata-se de uma desconfiança legítima, fundamentada em evidências reais e que numa nação democrática pode e deve ser investigada. Aliás, tudo pode ser investigado, pois ninguém está acima da lei, nem o Flávio e nem a mídia.

A matéria do Instituto Liberal ainda coloca a questão da entrevista do ex-ministro Bebianno no programa Os Pingos nos Is. Pois bem, a entrevista pareceu-me uma estrutura montada como peça de defesa do ex-ministro. Algo errado com isso? Absolutamente nada. Todos os argumentos de defesa devem ser trazidos a público, sem problema algum. Porém, falar que inexistiu um tom de camaradagem na entrevista… bem… aí fica difícil.

A meu ver, os icônicos jornalistas Augusto Nunes e Felipe Moura Brasil não atuaram com o costumeiro brilhantismo. Nada além disso. Algum problema mais grave? Não. Apenas não vimos o melhor jornalismo naquela tarde, mas sim uma peça de defesa bem elaborada. Deixarei de ser ouvinte assíduo deste ótimo programa por conta disso? Não. Vida que segue.

Evidentemente, sempre existirá uma minoria mais exaltada que acusará os jornalistas de traidores ou “quinta coluna”. Todavia, parece-me leviano generalizar a opinião de grupos mais exaltados, estendendo-a para todos os eleitores ou apreciadores da postura política do presidente Bolsonaro.

Aliás, a generalização preconceituosa (empresários exploradores, militares malvados, elite isso-ou-aquilo) é justamente a postura tipicamente marxista e de seus asseclas. O fanatismo vermelho reside justamente na generalização e na divisão da sociedade em classes conflituosas, além de ampliarem a vontade de meia-dúzia de manifestantes raivosos como se fosse a “vontade popular”. Pobre expressão tão vilipendiada pelos populistas que está se tornando uma retórica de péssimo uso político.

A matéria do Instituto Liberal que ora critico foi bem escrita e tem aspectos importantes que merecem meu reconhecimento. Minha crítica está em sua generalização exagerada, transformado minoria em maioria, diferenças em similaridades, enfim, verdades em mentiras. Está claro que existem fanáticos ideológicos para todos os lados e em todas as direções – inclusive entre os liberais – mas comparar fanatismos pontuais com o endêmico fanatismo rubro pareceu-me desmedido, desprovido de honestidade intelectual e desconexo do senso de proporcionalidade razoável.

Fontes:

Matéria sobre o suposto messianismo antiliberal de Bolsonaro:
http://bit.ly/2U6fwev
Incêndio das cargas para ajuda humanitária:
http://bit.ly/2H0Of9K
Haddad bajulando o ditador Maduro:
http://bit.ly/2IzbYjD
Lula bajulando o ditador Maduro:
http://bit.ly/2H1P4iD
Gleisi com seu modelo vermelho-petista, condenando a ajuda humanitária:
http://bit.ly/2H6yr58
PSOL apoia Maduro:
http://bit.ly/2Izjqvm
Opinião da cubana Zoe Martinez:
http://bit.ly/2EcRyrb