- Da vitimização ao protagonismo existencial
Portamos boas e más notícias, especialmente para os jovens educados por um sistema baseado na enganosa política populista, na glamorização da vitimização e na terceirização das nossas mais óbvias responsabilidades. Tais nefastas e programadas influências e más doutrinações ideológicas são hediondos métodos de dominação pelo enfraquecimento do isolado indivíduo que, paulatinamente, passa a acreditar na sua dependência de Estados, governos e/ou agentes estatais despóticos. Paradoxalmente, a verdade reside no exato e extremo oposto.
A vitimização – também conhecida como “vitimismo” – pode ser compreendida como a crença revertida em conduta de que os outros ou algum agente externo sejam responsáveis por sua infelicidade, seja por influência de doutrinações espúrias com a já citada finalidade tirânica, seja por algum mecanismo de defesa do ego, como o deslocamento do inconformismo contra sua própria incompetência para alvos externos ou de alguma crença fantasiosa e utópica em sistemas políticos que entreguem graciosamente o objeto do desejo de desavisados eleitores, sem falar da negação das realidades desagradáveis e de sua própria responsabilidade pelas ocorrências da sua vida. Infelizmente, o quadro é grave e a ignorância política e espiritual reside entre nós.
Os mais revoltados vociferam e apontam seus indicadores para algo ou alguém externo a si mesmo, eis que tudo e todos seriam culpados por sua desgraça, menos ele próprio. Eventual desencanto amoroso é creditado à canalhice do parceiro; a escassez financeira é descarregada nos ombros do “malvado” patrão ou em algum sistema baseado no mérito personalíssimo, que recusa a concessão do seu pseudo almoço grátis[1]. Finalmente, a miséria moral daquele que não assume o ônus e bônus de si mesmo desagua na sua própria ruína espiritual, atraindo para si uma realidade similar ao seu estado mental, ou seja, amizades e circunstâncias que vibrem na mesma frequência imatura dos seus mimizentos murmúrios.
Ao leitor que se incomodou com o parágrafo anterior, eis a pontiaguda notícia: feliz ou infelizmente, somos herdeiros espirituais de nós próprios. Vale dizer, tal informação pode jogar contra ou a nosso favor. De um lado, o único local adequado para nossas reclamações é em frente do espelho, mas este mesmo refletor também é o instrumento adequado para o festejo de nossos triunfos.
Obviamente, encontraremos situações externas atenuantes e agravantes, mas a pergunta que não cessa: as circunstâncias de nossas vidas seriam fruto do acaso? Feliz ou infelizmente, na seara espiritualista, não há desculpas ou justificações excludentes de nossa própria responsabilidade frente a nós mesmos. Pondero a hipótese de existirem fluxos e leis naturais e imutáveis que regem o universo e nossa relação positiva ou negativa com tais fluxos parte de nosso livre-arbítrio, gerando consequências específicas. Utilizemo-nos de uma expressão popular: “o plantio é livre, a colheita obrigatória”.
Obviamente, a honradez por assumirmos o ônus e bônus de nossa situação existencial não nos impede do exercício edificante do altruísmo, mas jamais sob canto da sereia populista através do qual a suposta bondade do enganador baseie-se no esforço alheio. Podemos exemplificar com personalidades intrometidas, despóticas ou governantes sedentos por mais tributos, mas tal aprofundamento reflexivo ficará para outro momento.
A presente proposta visa ofertar ao leitor um fortalecimento moral e psíquico que o credencie a posicionar-se frente ao espelho com regozijo por assumir o protagonismo de sua existência, como legítimo herdeiro de si mesmo. A experiência desagradável, deixaremos no passado e corrigiremos nossos equívocos que nos levaram a ela. E para que tenhamos um futuro repleto de conquistas espirituais, treinaremos nosso veículo material para acostumar-se com tais emoções e pensamentos edificantes. Esclareço: anteciparemos tais sentimentos e pensamentos de regozijo antes mesmo da ocorrência da realidade futura para a qual passamos a caminhar. A pergunta emergente é: temos essa coragem?
[1] “Não existe almoço grátis” é uma expressão adaptada da língua inglesa “there is no free lunch” e remonta a ideia de dificuldade ou impossibilidade de conseguir algo sem algum custo, ainda que tal ônus esteja oculto ou acobertado por alguma intenção ou interesse político escusos. O termo popularizou-se através do economista Milton Friedman, que o utilizou como título de um de seus livros.