DO MATERIALISMO À TRANSCENDÊNCIA
Antes de escrever esse texto, ouvi uma pitoresca história de um mineiro que se incomodou com o uivo lamurioso de um cachorro. Perguntou ao seu dono: por que chora o cão? Porque deitou-se sobre um prego, respondeu o proprietário do animal. Insistiu o interlocutor: E por qual razão o cão não se levanta? A próxima resposta guiará nossa reflexão: Pois é… ele não se move porque não doeu o bastante.
Nesta inocente história reside uma antiga questão filosófica sobre a utilidade transcendente do sofrimento. Em suma: o porquê do mal. O flagelo físico, num contexto transcendente, pode ser visto como um despertamento da alma para seguirmos uma programação existencial para além desse mundo rochoso. O ouro de tolo seria a própria materialidade. As brilhantes e supostamente valiosas joias materiais seriam insignificantes grãos de areia para o espírito.
Estaria eu escrevendo um artigo religioso? Se afirmativa a resposta, seria budista, espírita ou cristão? Eu poderia responder de duas formas paradoxalmente distintas ou parecidas: 1. Não, meu discurso “apenas” transcende o materialismo. 2. Sim, por transcender o materialismo, meu discurso vibra em sintonia com tais vertentes religiosas e tantas outras.
Termino essa rápida provocação filosófica com algumas perguntas e uma reflexão final. Será que o prego materialista não doeu o bastante para nos movermos em direção às demandas transcendentes? Quando acordaremos para nossa constituição como Força e matéria? Força, alma, espírito, essência ou consciência? Qual o melhor termo para designar o princípio inteligente que pensa, sente e age através da sonda física?
O significante pouco importa se entendermos o significado. Somos depositários do bem, portanto, devedores do bem. Nossos credores são todos ao nosso redor. Entreguemos lucidez, bondade, tolerância… Bem… nem sempre é fácil, como bem sei. Todavia, convido a pensarmos juntos sobre todas as ações virtuosas que nos precederam e nos possibilitaram o conforto e as facilidades que possuímos.
Como depositários de tudo que recebemos, somos também responsáveis pela retribuição dessa verdadeira joia espiritual concedida a nós. Mas que diamante seria esse? Que ativo verdadeiramente transcendente estaria a nossa inteira disposição? Eis a resposta: a nossa própria existência. Todos nós temos arestas mais ásperas e outras mais polidas. Convido todos os leitores, obviamente incluindo-me, a saldarmos nossos débitos através do compartilhamento de nossos traços um pouco mais lustrosos. Esse artigo é uma modesta tentativa de compartilhar essa básica reflexão filosófica e existencial.