AO MATERIALISMO E NADA ALÉM?
- De KANT à MARX
Os tempos modernos trouxeram-nos os fantásticos iPhone’se iPad’se todas as demais maravilhas tecnológicas, mas em termos morais e/ou espirituais funcionou com um touro mecânico numa loja de cristais. A consciência da transcendência como elemento objetivo da existência humana (e não como mera ilusão pueril) ainda não foi absorvida pela modernidade em sua magnitude. A alma, o espírito, o self, enfim, a nossa essência restou negligenciada em face das brilhantes purpurinas materializadas da modernidade.
A degradação moral não tardou, não somente neste período carnavalesco de 2019, mas também em todas as jurisdições sociais. Peças teatrais de péssimo gosto[1]–[2]–[3], desvio de bilhões (com “b” de bola) do erário público[4], exposição de crianças à nudez[5], professoras infantis usando obscenidades como protesto[6], estímulo de movimentos pélvicos em sala de aula[7]etc. Perguntei-me algumas vezes: como chegamos nisso?
Pois bem, ontem iniciei a leitura de uma longa apostila com o tema: “A Filosofia no Século XIX”. O foco da abordagem atinge a transição para a modernidade, cuja reflexão partiu da crise da Filosofia Medieval. A escolástica perdeu força (século XVII) e entraram o Racionalismo e o Empirismo.
O racionalista Descartes nos brindou com a autonomia da razão no processo cognitivo. Mas a razão daria conta de tudo? Bem… o não menos brilhante Locke e seu empirismo enalteceram a experiência sensorial, mas o problema repetiu-se, eis que a estrada empírica para o conhecimento também encontrou suas limitações, mormente no campo transcendente.
Neste contexto, surgira o furacão kantiano. Sua complexa filosofia transcendental estabelecia condições de acesso ao conhecimento dos objetos. Todavia, seria a filosofia transcendental kantiana, de fato, transcendente? Teria Kant negado a objetividade da transcendência? Parece-me que essa não foi a intenção de Kant, mas um primeiro passo fora dado neste sentido a partir dele.
O sujeito kantiano possuiria uma estrutura de acesso ao conhecimento a priori, ou seja, a sensibilidade. Esse veículo de acesso para a compreensão da “coisa em si” estaria condicionado ao espaço e ao tempo, dentre outras limitações. Assim, a “coisa em si” ou os objetos constituídos pelo sujeito seriam “apenas” fenômenos ou representações desse mesmo sujeito.
Pensei nas premissas kantianas e imaginei um abismo praticamente intransponível para conhecermos qualquer coisa, pois estaríamos limitados a observar “apenas” tais representações. E conclui a apostila: “Se a coisa-em-si permanece eternamente inacessível, nada sabemos sobre ela… Logo, a noção de coisa-em-si não deveria fazer parte do nosso discurso filosófico”. Deste ponto para a eliminação da própria coisa-em-si e da própria transcendência só precisou de um empurrão do idealismo.
A trinca Berkeley (1685-1753), Fichte (1762-1814) e Schelling (1775-1854) advogaram versões do idealismo alemão. Essa corrente filosófica admite o acesso à realidade exclusivamente por meio da mente. Parece-me que estamos diante de um flagrante reducionismo ao veículo mental, mas ficou a duvida sobre a extensão conceitual do vocábulo “mente”.
Na sequência histórica, minha apostila abordou o idealista Hegel (1770-1831) e sua proposta e reflexão sobre o Todo ou o Absoluto. Esse Absoluto seria indeterminável e ganharia consciência de si mesmo num momento determinado.Achei estranho, pois o conceito hegeliano de Todo ou Absoluto teria limitações temporais? Em outras palavras, se o Todo imaginado por Hegel supostamente adquirira consciência de si mesmo a partir de um determinado momento, esse mesmo Absoluto perderia o aspecto da infinitude pretérita (não sendo tão “absoluto” assim). Fiquei com a sensação que Hegel condicionara a consciência deste suposto Absoluto a um marco temporal, contrariando assim as vertentes filosóficas da Antiguidade e da posterior influência cristã. Por fim, surgiu a tríade dialética: afirmação, negação e negação da negação. Enfim, Hegel pareceu-me ter sucumbido e limitado sua visão de Todo ao conceito espaço-tempo.
Hegel também aponta a evolução a partir de uma tese (afirmação), antítese (negação da tese) e síntese (negação da negação). Façamos uma analogia com uma semente de uma árvore: 1. O ser (tese) é indeterminado no estado semente (árvore em pura potencialidade). 2. Identifica-se o não-ser (antítese) ou a não-árvore. 3. Resolvida a contradição dual pelo devir (síntese) ou identificação da árvore pela semente.
O discípulo de Hegel, Feuerbach (1775-1833), por sua vez, inverte a dialética hegeliana (que parte do espírito) e interpreta a questão filosófica por uma suposta origem material. Assim a matéria assume o protagonismo e o espírito passaria a ser um epifenômeno material. Discordo frontalmente deste e de qualquer outro modelo materialista.
Desse caldo filosófico oriundo do idealismo alemão surgiu o materialismo histórico-dialético de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Como o próprio nome sugere, a visão da dupla comunista reduz tudo à matéria. Enfim, os famigerados comunistas uniram a dialética do idealismo à uma “cosmovisão” materialista. De minha parte, coloquei o termo entre aspas por considerar a visão materialista muito reduzida e limitada. Sob minha perspectiva, uma cosmovisão digna desde nome deveria incluir as dimensões transcendentes no tabuleiro da realidade objetiva.
Depois disso, o materialismo histórico-dialético marxista desconsiderou toda a transcendência num reducionismo filosófico e materialista que adjetivo de grosseiro. Do ponto de vista político, o domínio da jurisdição do certo e do errado pela política (atualmente exercido pelo que se convencionou chamar de “politicamente correto”) é ferramenta tirânica de controle social[8].
A moral passou a ser algo ditado pelo campo institucional e a evolução humana supostamente caminharia para uma sociedade sem classes, obviamente após a ilusória revolução comunista proletária. Outra falha estrutural retumbante do Marxismo está em considerar a estrutura triádica para considerar o feudalismo como tese, o capitalismo como sua antítese e o socialismo/comunismo como síntese. O tempo e os fatos históricos se incumbiram de demonstrar que a teoria marxista falhou miseravelmente por onde passou. Minha questão é outra: qual o custo humanitário destas tentativas?
O caminho da modernidade enalteceu o materialismo e uma engenharia social utópica que, lamentavelmente, transformou-se em ferramenta dos déspotas de plantão. Entraram em cena o hedonismo exacerbado, a glamourização do mundano e o consequente descaso com os valores transcendentes[9]. Minha pergunta inicial foi: como chegamos nisso?Esse parágrafo sinalizou e esboçou uma resposta.
Ao negar a realidade transcendente e condicionar a moral às vontades “humanas, demasiadamente humanas” (para citar chistosamente Nietzsche), o materialismo marxista e teorias posteriores – como o positivismo de Auguste Comte (1789-1857) – tentaram desconstruir os conceitos morais transcendentes, os valores cristãos, a estrutura familiar e, consequentemente, toda a sociedade. Simples assim.
Por derradeiro, a modernidade precisa regatar histórica e filosoficamente a metafísica, a espiritualidade ou a transcendência (como queiram) para que possamos adquirir consciência sobre as leis naturais e imutáveis que regem o universo e nos religarmos objetivamente o bom, o belo e o verdadeiro.
Fontes:
[1]http://www.ilisp.org/artigos/iniciativas-artisticas-bizarras-financiadas-com-nossos-impostos/
[2]https://spotniks.com/os-12-projetos-mais-bizarros-aprovados-pela-lei-rouanet/
[3]https://youtu.be/FXRKDykPlII
[4]https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/roubo-na-petrobras-custou-mais-ao-brasil-que-ouro-levado-por-portugal-bhksh2wnd5qsl08e064ocj497/
[5]https://www.youtube.com/watch?v=HR5CZPRRrYo
[6]https://youtu.be/fSbWN1kliV8
[7]https://youtu.be/VJw8_KOGtRQ
[8]https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2401
[9]Posições de estudiosos da transcendência:
Divaldo Pereira Franco (prisma espírita):
https://www.youtube.com/watch?v=wu3CsT8CcMI
https://www.youtube.com/watch?v=3KZ3bH3U_ec
Paulo Ricardo (prisma católico):
https://padrepauloricardo.org/cursos/revolucao-e-marxismo-cultural
https://padrepauloricardo.org/aulas/a-infiltracao-do-marxismo-cultural-no-brasil
Haroldo Dutra (prisma jurídico):
https://www.youtube.com/watch?v=QZ28HFm07gQ
Estímulo de movimentos pélvicos em escolas:
https://www.youtube.com/watch?v=VJw8_KOGtRQ